Eduardo Lourenço morre aos 97 anos: A sabedoria de um intelectual de excepção

A SPA manifesta o seu profundo pesar pela morte aos 97 anos de Eduardo Lourenço, pensador, ensaísta, cidadão empenhado, filósofo e professor universitário que deixou uma marca profunda e única na história contemporânea da cultura portuguesa. Eduardo Lourenço acompanhou sempre de forma atenta e solidária a vida da cooperativa dos autores portugueses, tendo aceitado escrever o prefácio para o álbum comemorativo dos 90 anos da SPA.

Em janeiro de 2014 foi publicado na colecção O Fio da Memória o livro “Eduardo Lourenço: A História é a Suprema ficção”, com base numa longa entrevista feita por José Jorge Letria. Falando sobretudo acerca da Europa e da sua história, o livro foi elogiado, entre outros, por Mário Soares.

Em 22 de Fevereiro de 2011, Eduardo Lourenço recebeu na gala anual da SPA no CCB/RTP 2 o Prémio Vida e Obra.

Eduardo Lourenço na Gala do Prémio Autores 2011 (CCB)

Eduardo Lourenço, que era membro do Conselho de Estado, nasceu em S. Pedro do Rio Seco, Almeida em 23 de Maio de 1923. Entre as suas obras fundamentais agora a serem reeditadas pela Fundação Gulbenkian, contam-se o essencial “O Labirinto da Saudade”, “Pessoa Revisitado”, “Fernando, Rei da Nossa Baviera” e ”O Esplendor do Caos”, entre outras.

Era o mais velho de sete irmãos e tinha um pai militar. Foi leitor de língua portuguesa em Hamburgo e Heidelberg, em Montpellier, e depois professor na Universidade da Baía, e ainda leitor a cargo do governo francês em Grenoble e e em Nice. Fez a sua longa carreira académica na Universidade de Vence, em França.

Recebeu, entre muitos outros, o Prémio Camões em 1996, o Prémio Pessoa em 2011 e o Prémio Europeu de Ensaio em 1988. Tinha condecoração de oficial da Ordem de Mérito e de “cavaleiro” de l’Ordre des Arts et des Lettres e da Legião de Honra em França. Foi conselheiro da Cultura da Embaixada de Portugal em Roma. Durante a ditadura de Salazar foi detido pela PIDE.

O Primeiro-Ministro anunciou que haverá pela sua morte um dia de luto nacional na quarta-feira. Eduardo Lourenço foi administrador não executivo da Gulbenkian entre 2002 e 2012.

Foi amigo e manteve correspondência com grandes nomes da literatura portuguesa, caso de Jorge de Sena e Vergílio Ferreira.

Em 2018 foi protagonista e narrador do documentário “O Labirinto da Saudade”, de Miguel Gonçalves Mendes. “Portugal viajou uma viagem por conta própria, um sonho, e esse sonho não tem fim e não terá fim”- afirmou numa entrevista Eduardo Lourenço.

Deixou leitores e fiéis admiradores em várias gerações que hoje elogiam a sua inteligência, a sua amizade e a sua paixão pela cultura e por Portugal. Portugal, o da cultura, da História e da vida, fica mais pobre sem a sua presença sempre generosa e solidária. Era um ser humano e um intelectual de excepção que todos recordam com muita saudade e admiração. Foi celebrado e homenageado Por António Costa e por Marcelo Rebelo de Sousa a propósito da sua idade e da importância inquestionável e profunda da sua obra.

Lisboa, 1 de Dezembro de 2020

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