Author, Author…!!!
Pois parece um crime começar uma homenagem a um evento tão interessante como o dia da Música, ao celebrar a música em si, a dos intérpretes sem dó nem piedade, a tornada ré e refém pelos divulgadores ditos DJ´s e aparecer este apelo em inglês ou em português arcaico.
Recorro à memória do primeiro espectáculo que recordo para, no final, ficar surpreendido pelo apelo do público para a presença do autor em palco: aí se vislumbrou uma personagem que era a causa e a razão daquele sarau, daquela gala, daquele êxtase compartilhado pelos intérpretes e pelo público, entidade que pairava afinal sobre os executantes e, perdoe-se a similitude com os fuzilamentos, os executados.
Esse tal de autor, ou autora, que aparecem por instantes como na moda, na coreografia ou nos êxitos desportivos e que pairam, no caso da Música, por vezes já sem a capacidade de eles próprios extrapolarem a sua criação, por limitações físicas, psicológicas ou por mera opção, não devem ser esquecidos no vortex das futilidades, condecorações ou cruéis crucificações.
É caso para lembrar o apelo de proporções bíblicas “Pai, Pai, porque me abandonaste …?” e contemplar o isolamento, a indiferença e o estupro causado ao pobre do Autor, que hoje assiste ao derradeiro soar da sua obra em tímpanos alheios, como quem rouba o fruto sagrado mas não proibido da Árvore da Sabedoria qual serpente insidiosa que se apropria do Som e da Palavra .
Em tempos que já lá vão tivemos a tradição oral, depois a pedra, o pergaminho e a canva, a cifra, a pauta e a galáxia Gutenberg como a fotocópia cedeu à Web page, do binário ,do bit ao gigabite: tudo isto é o som de um Universo que rima em não ir a lado nenhum. Há na criação uma transcendência, um Som, uma vibração que tantos procuram numa Sintonia que muitos quiseram Sinfonia.
Quem o criou? O Author, que um dia, uma Tarde/Noite aparecerá para receber os nossos aplausos pela Música que fertiliza os nossos ouvidos : Nós próprios!
Rui Reininho
OUT 2016