“O resultado das eleições foi o reconhecimento do trabalho feito e da aposta na unidade dos autores”

-Afirma José Jorge Letria, novo Presidente da SPA

Vice-presidente da Direcção da SPA desde Setembro de 2003, administrador-delegado desde Setembro de 2007 e mais recentemente Presidente do Conselho de Administração da SPA, José Jorge Letria organizou e encabeçou a lista única que se apresentou no acto eleitoral do passado dia 6 de Dezembro. Essa lista foi sufragada pelos votos de 280 cooperadores, o maior resultado de sempre obtido por uma lista única na história da SPA.

José Jorge Letria, cooperador nº 404 da SPA, tem 59 anos, é Mestre em Estudos da Paz e da Guerra nas Novas Relações Internacionais e pós-graduado em Jornalismo Internacional pela Universidade Autónoma de Lisboa, tem dezenas de livros publicados para crianças e para o restante público, obras traduzidas numa dezena de línguas e vários prémios literários nacionais e internacionais. Foi um dos mais destacados nomes da canção politica, antes e depois do 25 de Abril. Autor de programas de rádio e de televisão, é também dramaturgo com peças representadas em Portugal e no estrangeiro. Entre 1994 e 2002 foi vereador da Cultura da Câmara de Cascais, sua terra natal.

Integrou durante oito anos o Comité Executivo da Associação dos Eleitos da Grande Europa para a Cultura, com sede em Paris. Foi vice-presidente da Casa da Imprensa.

Em representação da SPA, é membro, desde 2005, do Comité Executivo do Conselho Internacional de Autores Dramáticos Literários e Audiovisuais.

O novo presidente eleito, que sucederá a Manuel Freire no dia 5 de Janeiro, data da cerimónia da tomada de posse dos novos corpos sociais, deu ao Portal da cooperativa a sua primeira entrevista após as eleições.

– Que análise faz dos resultados obtidos pela lista única em 6 de Dezembro ?
– Faço uma análise muito positiva, pois considero que foram o reconhecimento do trabalho desenvolvido ao longo do mandato e sobretudo pela Administração que iniciou funções em Setembro de 2007 e que eu tive a honra de coordenar. Foram anos de trabalho árduo que deram agora os seus frutos, sob a forma da confiança que nos foi manifestada nas urnas.

– Que aspectos salienta desse período de gestão da cooperativa ?
– Em primeiro lugar, o ter-se colocado a gestão da cooperativa nas mãos de cooperadores aptos a desenvolverem um efectivo trabalho de modernização da SPA, o que permitiu avançar, nomeadamente, com a instalação do sistema informático SGS, determinante para o progresso da cooperativa; em segundo lugar a aposta, totalmente ganha, no reforço da visibilidade e do prestígio da SPA entre os cooperadores e no exterior, através de uma nova imagem gráfica, de um dinâmico plano de comunicação com os autores e também  de programas na televisão e na rádio; em terceiro lugar, o reforço da vertente mutualista e assistencialista, que permitiu ajudar vários cooperadores em situação de carência; em quarto lugar, a entrada em vigor de um plano de contenção de despesas, o início da rescisão amigável de contratos de trabalho e o aumento dos apoios sociais aos trabalhadores; em quinto lugar, a descentralização da actividade cultural da cooperativa para o Porto, com reconhecido êxito, e a entrada em vigor do Fundo Cultural, que permitiu apoiar mais de 50 projectos. Podia citar outras acções e medidas, mas tornaria a resposta longa e fastidiosa.

– Entende, portanto, que estas medidas influenciaram o resultado eleitoral ?
– Naturalmente que sim. Não tenho sobre isso a menor dúvida. Por outro lado, creio que foram essas medidas que demonstraram àqueles que sistematicamente criticam a gestão da cooperativa que não tinham condições para se constituírem como alternativa. Se essas condições existissem, não duvido de que teriam avançado, mais que não fosse por mero ressentimento pessoal ou por revanchismo. Os cooperadores, felizmente, perceberam com a clareza que o resultado da votação confirma que era tempo de cerrar fileiras e não de embarcar em aventureirismos que podiam comprometer o futuro da cooperativa, conduzindo à mediatização negativa de querelas artificiais e portanto inúteis. Quem já estava isolado ficou ainda mais isolado, por não poder falar em nome do interesse colectivo da SPA. Seria bom que alguns dos que nos últimos tempos criticaram a gestão da SPA fizessem passar pela cooperativa a totalidade dos seus contratos, como os estatutos exigem, mais que não seja para não se arriscarem a perder a condição de cooperadores, conforme está previsto estatutariamente.  Mas isso é assunto para tratar na altura própria e na sede própria.

– Foi, pois, a vitória de uma lista de unidade ?
– De unidade e acção, mas não o resultado de qualquer coligação com listas anteriores, pois na SPA não existem partidos nem grupos organizados. Houve pessoas de bom senso e com visão estratégica que se juntaram para, como dizia o slogan eleitoral, garantirem o futuro da cooperativa e unirem de facto os autores. Por outro lado, é importante referir que a lista sufragada pelo cooperadores, que foi inteiramente da minha responsabilidade, não foi uma emanação da Direcção cessante, embora a quase totalidade dos membros dos corpos sociais me tenha manifestado o seu apoio e confiança para que me candidatasse à presidência da Direcção. Fi-lo com a legitimidade que me é dada por sete anos na Administração da SPA e na vice-presidência da Direcção e também pelo contributo que sei ter dado nas duas eleições anteriores para a eleição de Manuel Freire.

– Mas, mesmo havendo uma só lista, foi feita uma campanha muito intensa, como se existissem duas em confronto?
– É verdade. Tive essa preocupação, pois sempre entendi que, quando não há disputa eleitoral, existe uma natural tendência para a desmobilização e para a abstenção. Empenhei-me, portanto, a fundo neste processo eleitoral, como nos dois anteriores, e, desse modo, obteve-se a segunda maior votação de sempre na história da SPA, logo a seguir ao resultado de 2006, superior em pouco mais de um dezena de votos, e a maior votação de sempre numa lista única, a larga distância de qualquer outra. Naturalmente que isso me deixa satisfeito, pois representa um expressivo voto de confiança na equipa que constituí e no trabalho que nos propomos realizar nos próximos quatro anos.

– Quais são os principais objectivos em relação ao mandato que se inicia em Janeiro de 2011 ?
– Em primeiro lugar, levar à prática as medidas constantes do plano estratégico que apresentámos no início de Novembro, designadamente a contenção de despesas, o aproveitamento total dos recursos postos à nossa disposição pelo SGS, o reforço das formas de cobrança e o aprofundamento da política de comunicação e de partilha de informação com os cooperadores. Por outro lado, destaco, neste quadro de crise global, a manutenção da credibilidade e da efectiva capacidade negocial da SPA com os grandes operadores, com os usuários em geral e com os decisores políticos. Estamos conscientes de que vamos viver momentos muito difíceis e só uma SPA unida será capaz de lhes fazer frente, mantendo os postos de trabalho existentes, bem como a tendência para a estabilização da situação financeira da cooperativa. Terminamos 2010, apesar dos sinais mais do que visíveis da crise, com resultados globalmente positivos. Mas vamos ter de continuar a trabalhar muito para enfrentar os tempos sombrios que aí vêm, pois é inevitável que se registe uma acentuada quebra no consumo de bens culturais, com todas as condições negativas que esse quadro trará à SPA. Ainda assim, posso assegurar que temos um conjunto de medidas para pôr em prática e que os efeitos da crise não nos apanharão de surpresa.

– Portanto, poderá falar-se de um moderado optimismo?
– Mesmo com o adjectivo “moderado”, eu diria que o tempo não está de feição para optimismos de nenhum género. Poderemos sim falar de realismo e de determinação, atitudes fundamentais para estarmos à altura das dificuldades que esperam os autores de todo o mundo e os portugueses em particular.

O essencial do nosso programa para 2011 está definido no Plano e Orçamento que irá ser votado na assembleia geral de dia 22. Estamos unidos em torno desses objectivos e sabemos que pelo menos 280 cooperadores estão connosco nesta luta pela defesa e dignificação dos direitos dos autores e da cultura em Portugal. Poucas vezes na história da SPA se encarou o futuro com tanto realismo e com uma base de apoio tão sólida e alargada. Tudo faremos para estar à altura dessa enorme responsabilidade, confiando na unidade dos cooperadores, que tão visível e estimulante foi neste processo eleitoral.

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