A SPA não se pronuncia sobre a greve dos motoristas que transportam matérias perigosas, porque existe a Lei da Greve, que define os deveres e os direitos de quem a faz, e também o enquadramento constitucional que o 25 de Abril tornou possível e consolidou.
No entanto, recordando os profundos transtornos causados pela greve de Abril passado, a cooperativa dos autores portugueses não pode deixar de manifestar a sua preocupação com os prejuízos causados por este processo reivindicativo à economia, ao normal funcionamento das instituições e ao país, o que ajuda a perceber a sua impopularidade que se acentuou nos últimos dias, também por se ter sabido que o mais notório e omnipresente dirigente sindical (sindicalista-motorista ou motorista-advogado?) quer candidatar-se ao parlamento nas eleições de Outubro, aproveitando por certo o impulso desta invulgar e excessiva notoriedade mediática que a época do ano favorece.
A SPA, com cerca de 26 mil associados, com 160 trabalhadores e com delegações espalhadas desde Braga às Regiões Autónomas, tem de assegurar a mobilidade das suas estruturas e funcionários, designadamente num período em que a proliferação de festivais de Verão tanto de si exige, para bem da cultura e da vida dos artistas e autores.
Nesse sentido, apesar das dificuldades conhecidas, a SPA garantiu o abastecimento possível da sua frota automóvel e a capacidade de intervenção regular e competente dos seus serviços.
Nos últimos dias tornou-se evidente o modo como este processo reivindicativo afectou a normalidade do seu funcionamento, apesar de nenhuma função essencial ter sido posta em causa. A SPA conhece bem os seus deveres e direitos e a forma justa de actuar em nome dos autores e da cultura, conforme amplamente tem demonstrado ao longo dos anos.
Não sendo admissível a intemporalidade desta forma de luta, a SPA considera que o governo tomou, em defesa dos interesses colectivos, uma posição firme e ponderada, tendo ainda a requisição civil como medida legal de reserva, caso as regras essenciais não sejam cumpridas.
A cooperativa dos autores portugueses, também em nome da estabilidade da nossa vida cultural, faz votos no sentido de que possa ser encontrada uma solução para este confronto entre trabalhadores e o patronato sem prejuízos ainda mais notórios para a comunidade de que fazemos parte com toda a sua diversidade e complexidade, ainda por cima em ano de eleições legislativas.
Ficam também feitos votos no sentido que o oportunismo pessoal e político não leve dirigentes sindicais a radicalizarem posições já extremadas em nome dos seus interesses políticos que nos levam, legitimamente a interrogar-nos sobre o que está por trás desta radical acção sindical e daqueles que, de forma radical, dela podem tirar partido muito para além das questões salariais, para obterem um problemático ganho político.
Lisboa, 12 Agosto de 2019